segunda-feira, 21 de julho de 2008

Contra todos

Entro na locadora e vejo uma garotinha – que devia ter, sei lá, uns dez anos – se esforçando para conseguir colocar as mãozinhas sobre o balcão enquanto berrava: “Eu odeio Juno! Nunca mais quero ver Juno na minha vida!”. O rapaz que estava com ela, provavelmente irmão, a ignorava. O balconista sorria. Eu até pensei em ir perguntar quais eram os argumentos que embasavam a opinião da revoltadinha. Mas o irmão logo a levou embora.

Juno, para quem não sabe, foi indicado ao Oscar de melhor filme este ano e levou a estatueta de melhor roteiro. Não é um filme ruim, mas também não é capaz de corresponder ao frisson que foi criado em torno da obra. Com diálogos espertinhos e um ponto de vista estritamente feminista, Juno rapidamente se transformou em queridinho das meninas superpoderosas. Quando várias garotas de uma escola dos EUA ficaram grávidas ao mesmo tempo, a imprensa chegou a dizer que as adolescentes poderiam ter sido influenciadas pelo filme. As expectativas da garotinha talvez fossem maiores do que ela mesma.

O mais engraçado, para mim, foi ver Juno se tornar vítima de sua própria época. Depois de assistir ao filme, cheguei à conclusão de que a grande virtude da narrativa de Diablo Cody (a roteirista) é conseguir ser muito contemporânea sem precisar apelar para qualquer tipo de truque. Em um mundo de adultos infantilizados e crianças neuróticas, não chega a ser surpreendente que uma adolescente seja alçada a ícone de maturidade em um filme. Menos surpreendente ainda é ver tal ícone ser referendado pelo público alvo. Sobressalto mesmo eu tive ao ouvir o desabafo da garotinha. Mais do que uma birra cinematográfica, aquele grito estridente soou como um protesto contra o desconforto imposto por uma era.. Não pude deixar de rir. Tomara que ela mantenha a promessa.

Um comentário:

Anônimo disse...

"Em um mundo de adultos infantilizados e crianças neuróticas, não chega a ser surpreendente que uma adolescente seja alçada a ícone de maturidade" - Frase do ano!