segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

12 canções que, se tocarem, eu juro que danço

Blogueiro que agora sou, também vou me entregar à confecção de listas, tão inúteis quanto variadas, tão egocêntricas quanto injustas, tão aleatórias quanto incoerentes.

Vai aqui a primeira, que dá título ao post:


1. Freedom 90 - George Michael

- Dá pra resumir num slogan. "Gays: fazendo os héteros dançarem desde que a música é música".


2. You Sexy Thing - Hot Chocolate

- Uma vez ouvido esse riff e seu corpo vai precisar dele de tempos em tempos.


3. Hot Stuff - Donna Summer

- Nem a Dilma Rousseff consegue passar imune a essa batida.


4. Can't Get You Out Of My Head - Kylie Minogue

- Um hino à atração física.


5. Touchy! - A-Ha

- Capaz de fazer suar mesmo se você estiver na Noruega!


6. Billie Jean - Michael Jackson

- O mestre no auge! E de quebra uma das melhores linhas de baixo de todos os tempos.


7. É Hoje - União da Ilha do Governador

- Melodia épica, letra alto astral e uma bateria capaz de fazer o Zagallo atravessar pulando o sambódromo.


8. I Predict a Riot - Kaiser Chiefs

- A clássica maneira britânica de fazer você pensar que pode fazer tudo enquanto não faz absolutamente nada.


9. Fa Fa Fa - Datarock

- A mais recente prova de que a mistura de um baixo esperto, uma bateria certeira, uma guitarra precisa e uma voz desmiolada sempre será explosiva.


10. Got to Give it Up - Marvin Gaye

- Se ela fosse estendida o suficiente, dava pra dançar quatro horas seguidas sem cansar.


11. Girls Just Wanna Have Fun - Cindy Lauper

- Nunca nada de ruim aconteceu quando garotas resolveram se divertir.


12. Dandalunda - Margareth Menezes

- O refrão diz: "Vamos todos resolver nossos problemas", na linguagem dos macacos Bonobo. Ou, simplificando, um convite baiano para orgias intermináveis.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Insensível

Nenhuma mulher deveria pintar as unhas dos pés, promulguei sem saber que ela estava toda esmaltada dentro daquelas botas de couro sintético. Era apenas um ressentimento surdo, que nascera em meio ao lodo de mágoas ancestrais e que eu saboreava sem guarnições, embriagado pelo prazer de me sentir vivo após tantas mortes. Eu teria preferido fazer a súplica justa: frugal sobremesa que ela resolvesse comer por gosto próprio. Mas o rancor se faz girar em betoneiras, aspira a concretudes, quer se mostrar coisa muito dura de ser engolida. Caminhávamos sobre calçada esquecida, rachada em outros caminhos, suja de solas que já haviam passado. Mas ela não era das que se importam por onde pisam. Vocês homens. Minha sobrinha de cinco anos já é toda colorida. Só o pai dela não gosta. E ficamos soterrados no mútuo betume. Só saímos de novo após dias de silêncio e culpa. Você sumiu, ela arriscou de sandálias. Suspirei. Que tal viajar comigo à praia? Não posso. Se você quiser, eu não pinto mais as unhas. Eu não poderia te pedir isso. Eu não me importo. Nem eu.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Jazz

São poucas as celebrações e, por isso,
meus excessos nunca terminam.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O mau ator

Se bem me lembro, a atuação foi séria – se não pelas intenções, ao menos se considerarmos que os dois não riram uma só vez e tampouco conseguiram ficar à vontade um instante sequer. Mas, curtida pelo sol diário, após tantas luas, a cena se tornou engraçadíssima, sobretudo para mim, que estava lá.

O restaurante, visto por olhos com menos de 25 anos de idade, era sórdido: a penumbra, em vez de descer como suave manta sobre cada casal, servia para tentar esconder a pintura cheia de rugas, as toalhas de mesa muito usadas e as cores desbotadas dos freqüentadores. Mais escuro eu me sentia porque ela tinha apagado a luz por trás dos olhos verdes, que para mim já não faiscavam. Sem destaque, imersos no cenário, nós calávamos os diálogos. Ela cadeira dum lado, eu do outro, e um rio – repleto de corredeiras, com a foz iminente e a distância entre margens tão larga que nenhuma mesa podia dar conta – passando no meio. A coisinha de 1,60m e suas razões um monólito só, muito além de altura que eu pudesse ombrear.

Prezo silêncios. Mas apenas se forem meus. Como ela dava tom de represália àquele grito sufocado, chamei o garçom e pedi-lhe que me recitasse as indicações do cardápio. Consegui que o constrangimento se dividisse por três. Mas ela, mexendo apenas um músculo dos lábios, passou da indiferença concentrada no vazio sonoro para o desprezo muito agudo de um sorriso. O terceiro, de súbito um amigo solidário, ao me ver afundar, vítima de uma vingança emocional, lançou-me os olhos como se fossem corda trançada com toda a piedade reunida em vinte anos de trabalho noturno. Era pouco para me dragar acima da resignação. Pedi duas taças de Porto. E o ininterrupto consentimento que se seguiu a isso deixou entreouvir a música de fundo: um piano de teclas alvíssimas arrastava o romantismo tuberculoso por um tapete vermelho, entre pausas breves e notas cada vez mais semifusas.

As minúsculas taças de vinho, colocadas nos extremos daquela mesa intransponível, iluminaram de vez a circunstância: o preço era muito alto por recompensa tão diminuta. Consciente, enfim, minhas opções se restringiram diante da nossa protagonista. Eu era coadjuvante. E não adiantaria prolongar falas, sapatear em cena ou tentar despertar nela qualquer sentimento que não estivesse programado. O roteiro era da mocinha.

Deslocado, tomei para mim o silêncio. E apenas sinalizei a conta. No carro, a pressão do não dizer nada aumentou. Baixei os vidros, coloquei o rosto para fora por três segundos e senti a bofetada de gelo doer antes pelo que viria depois. Seguimos até a casa dela como se Truffaut olhasse por nós. Até pensei em asfaltar caminho para o vilão, e atirar aquela bolha de vácuo motorizada por cima da ponte. Mas eu já era outro. E comecei a declarar palavras que me vieram à boca como se fossem texto que eu já tivesse lido. Sem me dar por mim, contei a ela das emoções que me tomaram quando a vi pela primeira vez. Enumerei suas qualidades sem usar adjetivos, disfarçando os elogios em uma sintaxe simples o suficiente para dar-lhe a certeza de que aquilo era a coisa mais sensata que ela já ouvira na vida. Pedi desculpas pelos meus erros, com ênfase nos que eu cometera sem perceber. E terminei com o epitáfio ideal para uma relação que já nascera morta, mas que a mulher fizera questão de assinar o óbito. “Nunca vou me perdoar por ter te perdido”. Fiz esforço para evitar o cinismo. Meu sorriso coçava comédia. Deve ter sido a primeira vez que a surpreendi. Mas ainda assim ela continuou impassível. Me deu um beijo no rosto como quem apaga um telefone da agenda. E, com uma batida de porta, o escuro voltou. Demorei muito tempo para conseguir rir depois daquilo.

Ciclo

Depois de longa pausa, volto a escrever por aqui. A partir de agora, deixo as frases sem efeito, as fraturas expostas e as crônicas um pouco de lado para me dedicar a pequenos textos ficcionais. Aproveitem e usem os comentários para as críticas, esses quitutes!

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Sexo frágil

"A mesma mulher que chora por ter batido o carro é capaz de estraçalhar um coração sem derramar uma lágrima."

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Presente de grego

Ah, as Olimpíadas! A cada quatro anos, é a mesma festa: abertura deslumbrante; matérias sobre a união dos povos; musas que só são musas entre Edinancis, Martas e as donzelas do halterofilismo; russos dopados; a queda do império americano; o discurso empolgado dos remadores, ciclistas, esgrimistas, atiradores e mesatenistas brasileiros – felizes por terem superado por uma posição o 28º lugar dos Jogos passados –; a marra da Juliana Veloso; as riquezas culturais do país-sede; os inúmeros e saudáveis bronzes do nosso país tropical; o povo brasileiro mais preocupado em saber se o Corinthians ganhou do Bambala ou se o Flamengo vai mesmo contratar o Zé das Couves – que está ganhando bem no Chipre, mas é rubro-negro desde criança –; os caras do basquete e a Rebeca Bombão vendo tudo pela TV; ex-atletas, alguns ainda em atividade, comentando na Globo; o handebol disputando o título de esporte mais chato do mundo com o hóquei sobre grama e o softbol; a imprensa dizendo que, dessa vez, é capaz de sair o inédito ouro do futebol; o vôlei feminino derrotado no tie break depois de estar vencendo por 2 sets a 0 e 24 a 11 na terceira etapa; e as inúmeras, variadas, multicoloridas, inesperadas e unissex amareladas do Brasil em todas as modalidades. Eu gosto demais, assumo.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Lei seca

Acordo animado para o churrasco de comemoração da formatura de uma amiga. Dia limpo, irmãos arrumados, rumamos para o clube. A churrasqueira, próxima ao Lago Paranoá, cintila alegria. Dá para ver de longe: cada pessoa realmente feliz por estar ali. Logo, chegam mais bons amigos. A fartura gastronômica completa a cena. Envoltos pela claridade, conversamos sem arreios e bebemos e comemos sem contradições. Alguém sugere uma pelada. Dentro do ginásio, a intimidade se amplia. Corremos uns pelos outros os cansaços e exageramos as broncas. Perco um gol com rara categoria. E saímos exaustos, prontos para a cerveja que nos espera. Estendemos as conversas até o anoitecer. E tudo termina em gentilezas. Mas a cena mais marcante da longa festa é esta que não me esqueço: quatro marmanjos, barbados, cujas idades somadas ultrapassam os 100 anos, cada um com sua habilitação, cada um com sua dose de alcóol nas veias, todos impedidos de dirigir, esperando meu pai, que já não tem filhos adolescentes há um bom tempo, buscar-nos.

domingo, 3 de agosto de 2008

Agora que eu sou um deles...

Não é lirismo o sonho de mudar o mundo na boca
dos estudantes de direito.
Será auto-ajuda frases de efeito dez coisas
para alegrar seu dia agenda de pensamentos
a ética de legislar em causa própria currículo, enfim...

Antes a compaixão ao ofensor
e nunca a vingança dos injustiçados.

domingo, 27 de julho de 2008

Paciência

Odeio esperar. Apenas um minuto de espera é suficiente para desestabilizar minha parca inteligência emocional de uma maneira que só o futebol, o trânsito ou certas bandidinhas conseguem. Há umas duas semanas, saí do trabalho tarde na quinta-feira e rumei direto para o Piauí (a distribuidora de bebidas e não o glorioso estado). Não me preocupei com nada, já que há pelo menos cinco anos me encontro com o mesmo grupo de amigos, sempre às quintas, mais ou menos no mesmo horário e sempre no Piauí – o ambiente é sórdido, o atendimento viola artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o dono usa base nas unhas, mas nós sempre voltamos.

Dessa vez, contudo, cheguei à 403 Sul – no famoso quintal de curtos limites que depois das 3h é dominado por uma gangue de ratazanas, mas antes parece mais sujo – e ninguém do grupo estava por lá. Liguei para cada um e todos usaram a mesma frase calhorda: “Tô chegando!”. Mesmo assim, cometi o erro de escolher uma mesa vazia, sentar e pedir uma cerveja. Disposto a preservar o centímetro de dignidade que ainda me separa de um alcoólatra profissional, enchi o copo, mas não bebi – sozinho nunca! Hoje, consultando a memória, eu diria que aquele copo permaneceu intacto por umas duas horas. Mas deve ter sido meia hora das mais longas da minha vida.

Sei que foi tempo suficiente para olhar o relógio 762 vezes, mudar 831 vezes de posição na cadeira, mexer no celular, ajeitar o cabelo e olhar para os lados vocês entenderam o número de vezes. Ainda deu tempo de imaginar uma morte detalhada e diferente para cada um dos meus amigos e sonhar com discursos intermináveis sobre falta de consideração. Mesmo com o copo intocado, tenho certeza que os promissores jovens freqüentadores do local me olharam como o futuro a ser evitado e os alcoólatras asquerosos que já fazem parte da decoração me julgaram parte da decoração. Quando, enfim, chegaram os caras que eu mais amo neste planeta, fiz meu drama, ameacei ir embora, jurei represálias, mas logo passamos a assuntos mais importantes.

Depois, fiquei quase uma semana me achando o cara mais responsável daquele grupinho de individualistas. Mas, na quinta seguinte, pela manhã, precisei ir a uma clínica de oftalmologia, para exames de rotina. A maratona se dividiu em seis partes: pré-atendimento, atendimento na recepção, primeiro teste, dilatação das pupilas, segundo teste e consulta com a doutora, com intervalos de quarenta minutos entre cada um dos eventos. Aguardei mais tempo em uma manhã do que a soma dos minutos de espera dos seis meses anteriores. È claro que, no dia, esqueci de colocar o ipod ou qualquer livro na mochila.

Interpretei a purgação oftalmológica como uma merecida surra divina pela soberba alimentada durante a semana. Mas é claro que não foi só isso. Transcorridas as duas primeiras horas de espera, uma velhinha de traços orientais sentou-se de frente para mim. Ela também aguardava. Mas fazia isso com tal delicadeza que não pude deixar de fitá-la, tentando adivinhar que sorte de provações haviam criado aquele bibelô de paciência inquebrantável. Observei-a por tanto tempo que ela notou e, num movimento de suavidade nipônica, pousou o olhar em mim. Sou tão fechado que costumo desviar os olhos até mesmo dos meus próprios no espelho. Mas me senti tão compreendido que, sem esforço, sustentei o olhar e pensei em pedir, com a humildade das minhas pupilas dilatadas, por orientação. Nesse exato instante chamaram a velhinha. Ainda não havia chegado a minha vez.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Preto no branco

Boa parte das minhas noites eu passo com pessoas sensacionais: Marcão, Petrô, Robertinho, Elinho, Pipo e Gustavo Adelmar Mariani. Juntos, fazemos o Torcida, caderno de esportes do Jornal de Brasília. Não é o melhor caderno esportivo do mundo, mas é feito com garra, boa dose de sacrifícios e, juro pra vocês, paixão. A equipe é pequena, mas não poderia ser melhor. Não há uma só pessoa que eu não goste, admire e respeite demais entre essas seis. Sem eles, ficaria muito mais difícil, para não dizer impossível, suportar as inúmeras dificuldades do trabalho.

È com eles que eu divido a alegria por acompanhar clássicos como Coritiba x Ipatinga ou Vitória x Náutico e depois ter de escrever, numa noite de quarta-feira, até 1h da manhã. Imaginem ter de esperar, num sábado à noite, uma partida como Gama x Brasiliense acabar para só depois ir para casa. Seria tudo perfeito, não fosse um detalhe: Marcão, Petrô e Robertinho torcem pelo Flamengo. Mariani é vascaíno e Elinho sofre com o Botafogo. Eu e Pipo dividimos o imensurável prazer de torcer por um time que há sete anos não consegue vencer o Botafogo. Mas a maioria é flamenguista.

Como essa praga assola o País desde que eu era criança, não é algo que me incomode muito. Mas sou obrigado a trabalhar ouvindo toda a sorte de estultices rubro-negras, ainda mais agora que o time chapa branca lidera o Campeonato Brasileiro. Respondo sempre à altura, preto no branco, sem dar margem a réplicas. Mas ontem levei um jab que me estalou o crânio. Entrei no jornal e já fui contando: “Ontem, sonhei que o Atlético era campeão da Copa do Brasil em cima do Flamengo”, certo de que o plano onírico desencorajaria qualquer respostinha mundana. Mas Petrô revidou de pronto: “Então volta pra cama, Mateus, porque você é mais feliz dormindo”. Era para ser apenas mais uma agressão gratuita entre torcedores rivais, mas doeu como verdade.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Contra todos

Entro na locadora e vejo uma garotinha – que devia ter, sei lá, uns dez anos – se esforçando para conseguir colocar as mãozinhas sobre o balcão enquanto berrava: “Eu odeio Juno! Nunca mais quero ver Juno na minha vida!”. O rapaz que estava com ela, provavelmente irmão, a ignorava. O balconista sorria. Eu até pensei em ir perguntar quais eram os argumentos que embasavam a opinião da revoltadinha. Mas o irmão logo a levou embora.

Juno, para quem não sabe, foi indicado ao Oscar de melhor filme este ano e levou a estatueta de melhor roteiro. Não é um filme ruim, mas também não é capaz de corresponder ao frisson que foi criado em torno da obra. Com diálogos espertinhos e um ponto de vista estritamente feminista, Juno rapidamente se transformou em queridinho das meninas superpoderosas. Quando várias garotas de uma escola dos EUA ficaram grávidas ao mesmo tempo, a imprensa chegou a dizer que as adolescentes poderiam ter sido influenciadas pelo filme. As expectativas da garotinha talvez fossem maiores do que ela mesma.

O mais engraçado, para mim, foi ver Juno se tornar vítima de sua própria época. Depois de assistir ao filme, cheguei à conclusão de que a grande virtude da narrativa de Diablo Cody (a roteirista) é conseguir ser muito contemporânea sem precisar apelar para qualquer tipo de truque. Em um mundo de adultos infantilizados e crianças neuróticas, não chega a ser surpreendente que uma adolescente seja alçada a ícone de maturidade em um filme. Menos surpreendente ainda é ver tal ícone ser referendado pelo público alvo. Sobressalto mesmo eu tive ao ouvir o desabafo da garotinha. Mais do que uma birra cinematográfica, aquele grito estridente soou como um protesto contra o desconforto imposto por uma era.. Não pude deixar de rir. Tomara que ela mantenha a promessa.

domingo, 20 de julho de 2008

Verbo

Não saber o que falar pras pessoas é tão diferente de não ter o que falar pras pessoas.

sábado, 19 de julho de 2008

Retorno

Comecei este blog pouco tempo depois de ter perdido tudo o que já havia escrito na vida. Meu disco-rígido (tem hífen, né?) queimou e nem uma bela soma de dinheiro foi capaz de resgatar as informações que nele acabaram enterradas.

O pior é que essa perda foi apenas mais uma entre várias de um período que apelidei de Fevereiro Negro. Sempre marcante o Carnaval. Enfim, depois de cinco meses de purgação, volto a escrever por aqui, agora mais leve. Deixo os quatro primeiros posts – de inspirações variadas – como marcas daquele breu. Depois explico o título do blog e o monte de outras coisas que talvez fosse preciso explicar antes. Mas prefiro recomeçar com um comentário impertinente sobre notícia que li ontem.

Goiânia, essa terra abençoada onde os pais, tomados pelo amor, batizam os filhos com combinações intrincadas de sílabas de seus próprios nomes, recebeu, na sexta e no sábado, dois jogos da seleção brasileira de vôlei masculino – sim, aquela do Bernardinho e de galãs improváveis como Giba, Dante e André Heller. Vencemos a Venezuela, este eterno sparring, duas vezes, por 3 sets a 0, para deleite de uma multidão formada em grande parte por sopranos.

O caso é que no fim do jogo, no ânfamo (como diria o sábio dono do Real Society, cujo neologismo tomo emprestado para não ter de usar o menos expressivo “afã”) da vitória, o público se excedeu e uma grade de proteção cedeu. Algumas pessoas caíram de uma altura de 1,5m e quatro se machucaram. Todas estão bem e já receberam alta, mas mesmo assim peço perdão pelo incômodo que o humor do texto possa causar aos pouco afeitos a distanciamentos. Não pude deixar de pensar que em nenhuma outra capital brasileira, talvez nem mesmo entre as inigualáveis metrópoles nordestinas, seria possível encontrar, em um grupo aleatório de quatro pessoas, três nomes do quilate de Laurenita, Aurenita e Braucileny. Tudo bem que a quarta vítima assina Paulo Sérgio, mas não será goiano este ordinário nominho composto. Ou, se for, de certo terá pais paulistas.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Tudo me dá sono
a não ser a madrugada.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Canção adolescente

Não importa o que eu arrisque
antes de me entregar.
O fundo do meu copo, vazio de uísque:
é pouco tudo o que me interessa.
Acelero o carro, mesmo sem ter pressa.
Eu não sei aonde quero chegar.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Abaixo os escapistas!

Todos os fracassos sobretudo os individuais
Todos os erros sobretudo os que não têm desculpa
Todas as dores sobretudo as incuráveis

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Fim

Deve ter sido para ela
como pás de terra numa sucessão.
Mas sobre mim caiu feito mármore,
um bloco.